Plugverso 23 (4ª temporada) - O segredo da Taylor

Crítica: Barbie – é um filme Anti-Homem?

Filme apresenta um roteiro fraco e cheio de furos, mas acerta na nostalgia e diversão.

Foto: divulgação



Criada em 1959 por Ruth Handler para a Mattel Inc., a boneca Barbie se tornou um fenômeno entre as meninas de todo o mundo, sendo considerada, assim, um ícone feminista. Como tal, foi alvo de inúmeras controvérsias, chegando até mesmo a ações judiais. Contudo, isso nunca foi impeditivo para que a Mattel lucrasse com a Barbie, fazendo desta, a linha de produção mais lucrativa da empresa. Assim, não era de se estranhar que, no momento em que vivemos — onde o diálogo e os debates a respeito do movimento feminista se tornam cada vez mais abertos e necessários — a boneca tenha ido para as telonas.

A história gira em torno da figura da Barbie, estereotipada, e seu dia-a-dia na Barbielândia — terra de todas as bonecas do universo Barbie. A vida dessa Barbie muda completamente quando ela começa a perceber que talvez nem tudo seja tão perfeito assim, com questionamentos sobre sua existência, algo que alarma os moradores desse mundo cor de rosa. O roteiro fica a cargo de Noah Baumbach (História de um Casamento) e de Greta Gerwig (Adoráveis Mulheres), que também dirige o longa. No elenco, estão Margot Robbbie no papel de Barbie e Ryan Goslin, como Ken.


Atenção: contém spoilers do filme.


Um roteiro com muitos furos, porém divertido



Foto: divulgação

A diretora Greta Gerwig traz um tema muito delicado e de extrema importância sobre o quanto as mulheres sofrem com o patriarcado e com a sociedade machista em que ainda vivemos, em um filme cheio de comédia e cenas musicais. No entanto, enquanto essa estratégia pode parecer brilhante, ela também apresenta problemas na execução, apresentando personagens que são jogados em tela sem um propósito narrativo. Um exemplo disso é a aparição dos executivos da Mattel. Pode-se entender que estão ali puramente para alívio cômico, no entanto, não conseguem nada além de causar tédio no público. Sua presença não agrega em nada para a história além de criticar a visão capitalista da empresa, que só pensa em lucrar em cima das bonecas.

O filme mostra que todas as Barbies possuem profissões e são supostamente perfeitas. Entretanto, em diversos momentos, podemos vê-las agindo com superioridade e desprezo com quem não se encaixa à sua “perfeição”, como com as Barbies descontinuadas, que acabam vivendo alheias às demais. O mesmo vale para os Kens, que são completamente menosprezados pela maioria delas, mesmo que aqui, ainda que de forma proposital, como uma crítica.

O Ken de Ryan Gosling demonstra um desperdício do talento do ator. É um personagem vazio e medíocre. Ainda que consigamos entender sua motivação, a falta de profundidade mostra certa preguiça no roteiro. Em determinado momento, ao descobrir sobre o patriarcado, ele decide voltar à Barbielândia e instaurá-lo lá, transformando a terras das Barbies, na terra dos Kens. O roteiro assume que ele foi bem-sucedido sem questionamentos, mudando a cabeça das Barbies falando sobre este mundo novo. Tal construção vai de encontro com a lógica estabelecida do filme, uma vez que o roteiro mostra que as Barbies são inteligentes e independentes, enquanto os Kens existem meramente para serem notados pelas bonecas.

Os executivos da Mattel são outro exemplo de roteiro preguiçoso. O objetivo deles é levar a Barbie Estereotipada de volta para Barbielandia e impedir que traga desequilíbrio aos dois mundos. No entanto, a própria Barbie decide voltar, fazendo com que a decisão deles de segui-la não faça sentido.

Margot Robbie está muito bem no papel, mostrando ser a escolha perfeita para a personagem. Todavia, o roteiro falha um pouco ao não aproveitar o talento da atriz por completo. O filme dá uma virada de chave ao mudar o ambiente perfeito da Barbielândia para o mundo real em que vivemos, a oportunidade perfeita para se aproveitar todo o talento da atriz ao mostrar as diferenças com o mundo de Barbie, mas isso acaba se resumindo a duas ou três cenas antes que ela se encontre com a filha de Glória, sua dona.

O desfecho do filme também deixa um pouco a desejar. À medida que o enredo avança, é mostrado que o extremo dos dois lados não é a melhor solução, levando a acreditar que o mesmo acabaria na formação de uma sociedade igualitária, mas, não é o que acontece. É mostrado que tudo volta ao ponto de partida, com exceção da protagonista, fazendo desse, um desfecho desgostoso para quem esperava que houvesse uma mudança real no status quo de toda a Barbielândia.


Uma produção impecável e uma bela homenagem


Foto: divulgação

Se por um lado, o roteiro não satisfaz com um tanto de furos, o mesmo não se pode dizer da produção e caracterização do filme. O mundo da Barbie é incrível, com cenários reais e sem CGI. É um verdadeiro deleite visual e talvez, o maior acerto do filme. O mesmo vale para o figurino, que replica o vestuário das bonecas com perfeição. Uma simulação dos brinquedos lançados na época que acerta na nostalgia.

As cenas musicais são uma grata surpresa. Apesar de desnecessárias, elas são muito bem coreografadas e divertidas. É o momento em que Ryan Gosling mais brilha no filme, em especial na cena de dança dos Kens. A composição cênica usada, faz desta cena, um espetáculo à parte.

Vale ressaltar alguns personagens que acabam se destacando, como a Glória, interpretada pela atriz América Ferrara. América rouba a cena tanto na comédia quanto com seu monólogo sobre as mulheres e as imposições feitas a elas pela sociedade. Outra personagem incrível é a Barbie Estranha, que brilha em todos os momentos que aparecem graças à atuação de Kate McKinnon. Ela consegue rir de si mesma como ninguém, dando o tom perfeito para sua personagem. Por fim, o Ken de Simu Liu antagoniza muito bem o de Ryan Goslin.

Barbie não só apresenta um grande debate sobre a causa feminista, como presta homenagem à sua criadora, Ruth Handler, mostrando todo respeito e carinho pela marca. Diversas cenas mostram momentos que toda menina já viveu com sua melhor amiga – a Barbie. Diferente do que muitos falam, o filme não está ali para lacrar. Trata-s de uma bonita e necessária homenagem à criadora, à boneca e a todos os meninos e meninas que um dia brincaram de Barbie.

Considerações finais


Barbie é um filme anti-homem? Não. No fim das contas, o problema não está no feminismo, tão pouco na forma como os homens são retratados. Esse tipo de crítica diz mais a respeito do ego frágil de quem não gostou do que sobre o próprio filme. Há muito cuidado na produção, apesar de o mesmo não poder ser dito a respeito da história. Ele diverte e entretém, é importante pelo debate que traz e possui um bom elenco, mas deixa a desejar pelas inconsistências de roteiro. Barbie está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil.

Nota: 3 plugs de 5.


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