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Invasão Secreta: Uma história desperdiçada

Um grande arco dos quadrinhos resumido a 6 fracos episódios.

Foto: divulgação


Por Daniel Lana

Que a Marvel Studios tem sofrido após Vingadores Ultimato, é inegável. Desde o início da fase 4, ela vem desagradando tanto os fãs mais exigentes quanto os mais condescendentes. O nível foi elevado com o final da saga das Joias do Infinito, e tudo que saiu desde então tem sido pouco, com um gosto amargo de mal planejamento, o que acabou culminando no desapego do público com o Universo Cinematográfico Marvel (UCM). Parte disso se deve à pandemia, que afastou as pessoas dos cinemas e deu notoriedade aos serviços de streaming, fazendo com que as produtoras focassem mais em quantidade do que qualidade a fim de não perder suas galinhas dos ovos de ouro.

Com a queda de qualidade e constantes reclamações do público, a Marvel, então, decidiu frear as produções de séries e voltar a focar na qualidade. Foi nesse contexto que Invasão Secreta foi gravada. Nomes de peso foram anunciados, como o de Emília Clarke (Game of Thrones), cujo papel, até então, era uma incógnita, e Samuel L Jackson, retornando como Nick Fury (Os Últimos Dias de Ptolemy Grey). Com tudo isso, aqueles que já conheciam a saga Invasão Secreta dos quadrinhos, se animaram e elevaram ainda mais as suas expectativas. Mas nem tudo saiu como o planejado.


Atenção: o texto a seguir contém spoilers da saga dos quadrinhos e da série.
Se você não leu os quadrinhos e não viu a série ainda, não leia essa crítica.

A Grande Saga dos Quadrinhos

Foto: Marvel Comics


Existe um motivo para tanta animação quando se fala de Invasão Secreta. Quem leu os quadrinhos, sabe a importância e o quão grande ela é. A saga surgiu em 2008 sucedendo outra história já adaptada para os cinemas — Guerra Civil — dando foco em uma raça alienígena: os Skrulls. Eles são conquistadores cruéis e tiranos cuja habilidade mais marcante é a de tomar a forma de outros seres.

Na história é revelado que os Skrulls estão infiltrados em nossa sociedade há décadas e sob identidades que vão do alto escalão da sociedade até as mais inusitadas. Tudo para instaurar um clima de mistério e desconfiança, onde não dá para saber quem é quem de verdade. Os super-heróis Marvel não ficaram de fora, sendo revelado que personagens importantes como Elektra, Wolverine e Homem-Formiga eram Skrulls disfarçados já há muitos anos. Essas revelações reviravam importantes pontos chave do universo dos quadrinhos dos últimos anos, e apresentava respostas para diversas pistas plantadas ao longo dos últimos anos, quando ainda não havia sequer indício de que uma invasão estava em curso. O arco envolveu até os Illuminati, grupo das maiores mentes da Marvel.

👉 Quem são os Illuminati da Marvel?

Este clima de mistério também rondava os personagens. Em quem eles poderiam confiar? Como se precaver? Essas questões, e diversas revelações fizeram da saga um sucesso que caiu no gosto dos leitores. Bastava seguir o roteiro já criado Brian Michael Bendis aos moldes de Guerra Civil, que adaptou e tomou certas liberdades a fim de tornar a história acessível a todos os públicos.

Um sucesso que não se repete

Foto: divulgação

O sucesso da saga Invasão Secreta não se repetiu em sua adaptação para os streamings. A série traz a mesma proposta dos quadrinhos: um clima tenso de desconfiança e espionagem em que não se pode confiar em ninguém. No entanto, diferente dos gibis, em que vemos esse clima durante toda a saga, a tensão acaba logo nos dois primeiros episódios. Há uma sucessão de erros, desde a morte de personagens como Maria Hill e Talos até a inconsistência entre os discursos e atitudes de Gravik, o “super” vilão da série.

Samuel L. Jackson e Don Cheadle são grandes acertos da série, pois os atores estão muito confortáveis em seus papéis depois de tantos anos, entregando tudo que deve e muito mais. Apesar disso, a construção de Nick Fury nos 11 anos de UCM, como um espião acima da média, sempre à frente de todos, é incompatível com o que o público viu em Invasão Secreta. Aqui, descobrimos que tudo foi obra de um trabalho conjunto entre ele e os Skrulls. Não apenas isso, mas é revelado que Fury é, na verdade, uma pessoa de caráter duvidoso que não cumpre suas promessas. Ele usa os Skrulls para matar em seu lugar e é capaz de abandonar até mesmo sua esposa, desconstruindo completamente a imagem criada pela própria Marvel.

Talos (Ben Mendelsohn) foi um grande acerto na série. O personagem surgiu em Capitã Marvel e fez poucas aparições desde então. Ele retorna à série como aliado de Fury contra a invasão de seu próprio povo e ganha profundidade ao ter que lidar com o conflito interno entre ajudar a humanidade e lutar contra o seu povo. Parte do seu conflito é demonstrado pela sua relação com sua filha, Gi'ah — a misteriosa personagem de Emília Clarke. Contudo, se a escolha dos dois se mostrou acertada, não se pode dizer o mesmo do destino de seus personagens. Trazer a morte de Talos aqui desagradou muitos dos fãs que gostavam dele e que passaram a se importar de verdade com o personagem. O mesmo vale para Gi'ah: ela se torna tão poderosa ao fim da série que, provavelmente, fará com que a personagem não retorne tão cedo.

A adição da personagem Sonya Falsworth (Olivia Colman) também é uma grata surpresa. A personagem é original da série e possui uma relação muito boa com o ex-diretor da S.H.I.E.L.D, além de fazer parte do MI6, uma agência britânica de inteligência. Apesar de ser uma aliada, ela possui seus próprios interesses e planos. A atriz entrega uma personagem carismática, misteriosa, intrigante e promissora para o Universo Cinematográfico Marvel.

Faltou construção e coerência

Foto: divulgação

Talvez a pior decisão da série esteja no vilão Gravik. Ele foi mal construído, com um discurso que não condiz com suas ações. Há uma incoenrência no personagem. Em dado momento, ele se intitula como um salvador para a raça Skrull, questionando a humanidade como um todo, e momentos depois, está disposto a sacrificar seu próprio povo para obter poder. Fica difícil criar qualquer empatia com o personagem. O estúdio que conseguiu fazer a audiência comprar o discurso de grandes vilões, como o Killmonger, de Pantera Negra, deveria ter feito mais por Gravik.

A revelação de James Rhodes como um Skrull infiltrado foi outro ponto que desagradou os fãs, por diversos motivos. Nos quadrinhos, os Skrulls substituíram diversos heróis da Marvel enquanto na série, ele foi o único Vingador a ser capturado e ter sua identidade roubada. A revelação no último episódio da série, que mostra que o verdadeiro Rhodes estava na posse dos alienígenas desde o fim de Guerra Civil faz com que o que vimos em Guerra Infinita e Ultimato não passasse de uma farsa Skrull. Isso por si só não seria ruim, se a Marvel tivesse o cuidado de plantar pistas ao longo dos anos. Na série, a revelação soa como um soco gratuito no estômago da audiência que acompanha o UCM a tantos anos.

Não fossem os problemas de construção da história, a cena de luta final entre Gravik e Gi'ah como Super Skrulls apresenta um CGI duvidoso. O ápice causa estranheza e não tem peso. Sim, a audiência esperava por um Super Skrull em algum momento, mas a luta parece desconexa de todo o restante da série. Sobram dúvidas que não serão respondidas e a fica o lamento pelo desperdício do talentoso ator Kingsley Ben-Adir, que faz Gravik.


Considerações finais


Invasão Secreta é apenas uma amostra do que poderia ter sido a grande saga da Fase 4 da Marvel, reduzida a seis episódios de puro desperdício de história e de elenco. A série abre ainda mais pontas, transformando o futuro do UCM no cinema em um queijo suíço, cheio de furos, com personagens que provavelmente ficarão esquecidos no limbo, assim como tantos outros.

A série Invasão Secreta está disponível completa no Disney+.



Nota: 1 plug de 5.

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